sexta-feira, 18 de março de 2011

Um momento, Bob Dylan, o vento, um pouco de alguma coisa...


Fim da queda da Cascata das Antas, Minas Gerais
Enquanto ouço Bob Dylan tocando suave em minhas caixas de som, e sentido o cheiro de perfume de flores desconhecidas entrando pela porta da sala, vou me perguntando o sentido de algumas coisas. Por exemplo, o sentido de envelhecer e se tornar distante de tudo que eu era, tudo que frequentava, tudo que eu conhecia.
O tempo tem tornando tudo diferente, tudo estranho. A começar por mim. Será que todos pensam a mesma coisa? Quando você tem 18 anos, pensa onde estará em dez anos. Mas quando você passa dos trinta anos, pensa que os próximos dez anos serão de que? Conquistas ou declínio?
Se bem que, depois de algum tempo, conquista ou declínio, bem como qualquer outro substantivo, verbo ou adjetivo passa a ter um significado diferente. Aos 18 anos você quer conquistar o mundo, conquistar as mulheres, conquistar a velocidade. Quinze anos depois e você entende que conquista é algo relativamente imaginário, ou, pelo menos, algo efêmero, temporário. Por quê? Porque nada é para sempre. A vitória representa uns poucos segundos após o término da partida, ou, às vezes, se prolonga por alguns minutos do dia seguinte.
O que prolonga pelos tempos, idealizado em um troféu, é uma falsa ideia de conquista. Por quê? Porque depois que a onda estoura pela praia, outras continuam a vir e estourar, e estourar, e estourar. A vida segue, dia após dia, hora após hora, minuto após minuto.
Então entendo que vitória ou derrota representam um momento. Apenas um momento de um todo. Não ganhamos ou perdemos o tempo todo, então, o melhor que podemos fazer é viver um dia de cada vez, uma emoção de cada vez. Se bem que certas emoções jamais voltam, então, de alguma maneira, precisamos buscar uma forma de torna-las infinitas, duradouras, para que tenhamos algo a que possamos nos agarrar, em meio a uma tempestade.
Há tanta bobeira desnecessária no mundo hoje, tomando nosso tempo de diversas formas que, se não nos atentarmos às armadilhas que estão ao nosso redor, ficamos presos em um limbo improdutivo, que consome nossas energias, nossos sonhos, nossos sorrisos e chega até a secar as nossas lágrimas. Quase que nos tornam um pedaço de máquina, sem emoções ou sentimentos.
Talvez tudo hoje em dia nos isole dos sentimentos, tudo com a ideia de que possamos ser fortes, livres, e conquistadores. E assim, sem nos darmos conta, nos tornamos prisioneiros de nossas próprias investidas contra a vida, contra o viver. É difícil arrebentar esses cadeados e correntes invisíveis que nos prendem ao fosso. Mas, de alguma maneira, sei que é preciso enxergar isso, cortar isso, pois o tempo é impiedoso conosco.
Se ainda temos algum tempo, é melhor que larguemos tudo e caiamos na estrada; com o vento contra nossos cabelos e nossa pele, contra as fantasias construídas no passado, porque tudo isso aqui se vai num dia, quando menos esperarmos, e é melhor fazermos isso agora, porque não sabemos até quando poderemos, até quando durara nossa força interna ou imaginária.
Talvez exista uma certa ânsia em se buscar algo novo, quando tudo que parece novo é arcaico, corroído, empoeirado. Até quando poderemos? Sinceramente, não sei. Talvez por isso seja necessário ter apenas uma pequena mala, com as coisas essenciais. Porque as coisas essenciais talvez estejam por aí, e acho que seria importante, mais cedo ou mais tarde, encontrar coisas pendentes. Tudo bem que não dá pra desligar de tudo, nem chutar tudo, mas é bom termos pressa e fome, enquanto temos um pouco de energia pra mover os nossos músculos, enquanto ainda temos coragem de nos ver como ser humano, enquanto ainda podemos querer.
Talvez o vento esteja a nosso favor, talvez não, mas o que importa? Reflexos, reflexões, eu preciso, de fato, do sabor do vento. É um sabor que nos parece desconhecido, mas o conhecemos muito bem, sim, cada um sabe o que significa. Ele está ali, do outro lado, quem sabe alguns passos sejam o suficiente, quem sabe um dia inteiro caminhando, sinceramente, não sei, mas preciso encontra-lo, preciso; simplesmente assim, sem mais nem menos, de dia ou de noite, o que importa? Acho que nada... mas, provavelmente, uma única mala será o suficiente, pois o restante estará por aí, aguardando.

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