domingo, 24 de janeiro de 2010

O Haiti é logo ali, no País das Maravilhas

Alice estava sentada ao lado da irmã, sem ter o que fazer. Sua irmã, por sua vez, lia um livro. Alice se esticou pra ver o que havia de interessante no livro da irmã. Nada de figuras, nada de diálogos. Logo pensou: “pra que servem os livros, se eles não têm imagens, tampouco conversas”. Foi entre essas e outras que Alice avistou um coelho passar por ela ligeiramente, olhos cor de rosa, vestindo um colete...(avançamos um pouco, e...) Alice, cansada da vida monótona, resolve seguir o tal coelho e, eis que...

O Brasil, entediado com a condição de país rico, e buscando um alento para fugir da monótona vida suíça, resolveu abrir os cofres e: investir R$ 375 milhões de reais em ajuda humanitária e construções de pronto-socorros no Haiti.

Enquanto isso, aqui no Brasil, ou melhor, no País das Maravilhas, milhões de litros de esgoto são produzidos a céu aberto e sem tratamento, a população em boa parte do Norte e Nordeste (e uma parcela considerável do sul e sudeste também, tanto que as maiores favelas do país estão fincadas nas regiões metropolitanas de São Paulo e Rio de Janeiro) vive abaixo da linha da pobreza, analfabeta, desempregada, sustentando uma taxa de desemprego altíssima – fácil de manipular e comprar em épocas de eleições.

Enquanto isso, os municípios de São Luiz do Paraitinga e Cunha ficam a "ver navios", talvez por diferenças político-partidárias, talvez porque as coisas por aqui funcionem assim mesmo. Mas aos afoitos, um momento: já se anuncia nos jornais que serão doados R$ 17 milhões de reais para a construção de duas igrejas em São Luiz. Para o povo: sobrou muita reza e água benta apenas.

Enquanto isso, a estratégia de marketing brasileira vai longe, além das fronteiras tupiniquins, pois o Haiti está na primeira página dos jornais do Chile, Argentina, Uruguai, Portugal, Espanha, França, Inglaterra, Estados Unidos...

Enquanto isso, nós anunciamos em alto e bom tom que queremos dividir a responsabilidade de reconstrução do Haiti ao lado dos Estados Unidos; sim, nós e Obama juntos na reconstrução cinematográfica de Porto Príncipe.

Enquanto isso, os Estados Unidos mantém um exército de 15.000 soldados, equipados com tecnologia de primeiro mundo. A tropa brasileira é de menos de 1300 soldados que ganham uma miséria de salário, carregando armamento digno dos anos 1950, sem nenhum preparo diferencial, sem qualificação técnica, sem falar inglês para dividir as ações das missões com os sócios norte-americanos nessa empreitada; sim, os brazucas trabalham na cara e na coragem.

Enquanto isso, cria-se a visão de que o Brasil está no mundo dos ricos, faz parte do BRIC, do G20, quando China, Rùssia e Índia possuem PIBS maiores, taxas de crescimento e investimento maiores, e nossa burocracia e alta taxa de impostos sufoca empresários, o desenvolvimento econômico, a população de um modo geral. Só pra compararmos em termos nominais, em 2009 a China cresceu 8,9%, enquanto que o Brasil teve crescimento quase nulo.

Enquanto isso, alguém por aí solta que esses dados não são reais, são invenções, especulações, alguém há de botar a culpa na bolsa de valores, acredito nisso.

Enquanto isso, este é o Brasil da Alice, do João, do Pedro, da Maria, do País das Maravilhas; por aqui, nada do que dizem é verdade, seja oposição, seja governo.

Enquanto isso, em se tratando de contos de fada, por aqui só a trajetória do presidente, transformada em cinema.

E por falar em cinema, será preciso criar muitos efeitos especiais pra construir o Brasil que estamos divulgando mundo afora. Quem sabe consigamos emplacar um filme de ficção científica de sucesso, de repente podemos até ser indicado ao Oscar. Mas, se nós não formos, quem sabe o filme do Lula o seja; aliás, só faltaria isso para glorificar nosso presidente: uma indicação ao Oscar...não duvidem de nada...

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Minha Lista de Melhores Filmes dos Anos 1990.

Estou pesquisando no baú das minhas memórias os melhores filmes que vi, ou os que mais gostei. Tentei levar em consideração o que me agradou, inicialmente; em seguida, a qualidade técnica, como o roteiro, a direção, o elenco, sua importância para o cinema.

Daí, resolvi colocar em primeiro plano os 05 filmes mais interessantes dos anos 1990. Vou escrever um breve comentário sobre cada um deles, porém, como vou escrevendo aos poucos, vou já apresentando os nomes. As fotos aqui postadas são pôsters originais de lançamento dos filmes.

Seria difícil e pretencioso pra mim definir qual seria o melhor, então seguirei uma linha cronológica crescente. Meu primeiro filme da lista é Os Bons Companheiros. Lançado em 1990, e com direção de Martin Scorsese, este excelente filme figura no primeiro lugar da minha seleção. A reconstrução da história da máfia, baseada em fatos reais permite uma viagem cinematográfica com interpretações de altíssima qualidade, a começar pelo Robert De Niro.


A seguir, em minha seleção, está aquele que considero o filme mais importante do cinema dos anos 1990. Lançado em 1994, tem a direção de Quentin Tarantino, é vencedor do Oscar de Melhor Roteiro, e a sua genealidade, pra mim, está em sua narrativa entrecortada em três histórias que se confundem e se completam numa lógica temporal fragmentada e distorcida, e num espaço delimitado, que são peças-chave para o desenvolvimento da trama.

Em terceiro lugar, vem o filme Cassino, lançado em 1995, também com direção de Martin Scorsese. Ainda retratando a história da máfia, este filme caminha para a legalidade dos cassinos, e remonta a vida de Frank Rosenthal, homem forte do mundo dos jogos. Conta com elenco e equipe técnica semelhante ao filme Os Bons Companheiros, acrescidos da bela Sharon Stone interpretando uma prostituta melancólica e confusa que se casa com Frank.

Lançado em 1997, Jackie Brown é, para mim, a história mais interessante dirigida por Quentin Tarantino. É para mim um dos melhor filme realizado nos anos 1990, filmografia obrigatória para quem gosta de um bom filme, um bom entretenimento, mas que exige qualidade e inteligência. Acredito que aqui Tarantino tenha aprimorado elementos que começou a desenvolver desde as filmagens de Pulp Fiction, talvez demonstrando seu amadurecimento cinematográfico, claro, em altíssimo estilo. A trilha sonora é uma fascinação à parte.

Lançado em 1999 e dirigido por Sam Mendes, Beleza Americana faturou 05 Oscar e o Globo de Ouro de Melhor Filme, sendo o grande vencedor dos prêmios de cinema do ano seguinte. Acredito que tudo neste filme seja grandioso. A sua visão de mundo apresentada para o século XXI, as interpretações de Kevin Spacey e Annette Bening, o roteiro - que vai caminhando gradativamente, a direção segura, a fotografia nebulosa e envolvente, a comédia sutil e sarcástica em algumas cenas - principalmente em Kevin Spacey, o romance juvenil e o desejo sexual, o drama e a tragédia que fecham esta obra. Talvez os prêmios do filme já o fizessem grande o suficiente para colocá-lo na lista dos melhores filmes de todos os tempos. Contudo, acredito que a leitura do mundo pós-moderno que o filme apresenta, como a crise imobiliária norte-americana, o desemprego, o impacto avassalador da globalização no modo de vida americano que o mundo viria a importar, o consumo das drogas, a necessidade do sexo e do status, e a realização pessoal através da conquista profissional, tudo fervido num só caldeirão, fazem deste filme uma obra atemporal, mortal, única.