Alice estava sentada ao lado da irmã, sem ter o que fazer. Sua irmã, por sua vez, lia um livro. Alice se esticou pra ver o que havia de interessante no livro da irmã. Nada de figuras, nada de diálogos. Logo pensou: “pra que servem os livros, se eles não têm imagens, tampouco conversas”. Foi entre essas e outras que Alice avistou um coelho passar por ela ligeiramente, olhos cor de rosa, vestindo um colete...(avançamos um pouco, e...) Alice, cansada da vida monótona, resolve seguir o tal coelho e, eis que...
O Brasil, entediado com a condição de país rico, e buscando um alento para fugir da monótona vida suíça, resolveu abrir os cofres e: investir R$ 375 milhões de reais em ajuda humanitária e construções de pronto-socorros no Haiti.
Enquanto isso, aqui no Brasil, ou melhor, no País das Maravilhas, milhões de litros de esgoto são produzidos a céu aberto e sem tratamento, a população em boa parte do Norte e Nordeste (e uma parcela considerável do sul e sudeste também, tanto que as maiores favelas do país estão fincadas nas regiões metropolitanas de São Paulo e Rio de Janeiro) vive abaixo da linha da pobreza, analfabeta, desempregada, sustentando uma taxa de desemprego altíssima – fácil de manipular e comprar em épocas de eleições.
Enquanto isso, os municípios de São Luiz do Paraitinga e Cunha ficam a "ver navios", talvez por diferenças político-partidárias, talvez porque as coisas por aqui funcionem assim mesmo. Mas aos afoitos, um momento: já se anuncia nos jornais que serão doados R$ 17 milhões de reais para a construção de duas igrejas em São Luiz. Para o povo: sobrou muita reza e água benta apenas.
Enquanto isso, a estratégia de marketing brasileira vai longe, além das fronteiras tupiniquins, pois o Haiti está na primeira página dos jornais do Chile, Argentina, Uruguai, Portugal, Espanha, França, Inglaterra, Estados Unidos...
Enquanto isso, nós anunciamos em alto e bom tom que queremos dividir a responsabilidade de reconstrução do Haiti ao lado dos Estados Unidos; sim, nós e Obama juntos na reconstrução cinematográfica de Porto Príncipe.
Enquanto isso, os Estados Unidos mantém um exército de 15.000 soldados, equipados com tecnologia de primeiro mundo. A tropa brasileira é de menos de 1300 soldados que ganham uma miséria de salário, carregando armamento digno dos anos 1950, sem nenhum preparo diferencial, sem qualificação técnica, sem falar inglês para dividir as ações das missões com os sócios norte-americanos nessa empreitada; sim, os brazucas trabalham na cara e na coragem.
Enquanto isso, cria-se a visão de que o Brasil está no mundo dos ricos, faz parte do BRIC, do G20, quando China, Rùssia e Índia possuem PIBS maiores, taxas de crescimento e investimento maiores, e nossa burocracia e alta taxa de impostos sufoca empresários, o desenvolvimento econômico, a população de um modo geral. Só pra compararmos em termos nominais, em 2009 a China cresceu 8,9%, enquanto que o Brasil teve crescimento quase nulo.
Enquanto isso, alguém por aí solta que esses dados não são reais, são invenções, especulações, alguém há de botar a culpa na bolsa de valores, acredito nisso.
Enquanto isso, este é o Brasil da Alice, do João, do Pedro, da Maria, do País das Maravilhas; por aqui, nada do que dizem é verdade, seja oposição, seja governo.
Enquanto isso, em se tratando de contos de fada, por aqui só a trajetória do presidente, transformada em cinema.
E por falar em cinema, será preciso criar muitos efeitos especiais pra construir o Brasil que estamos divulgando mundo afora. Quem sabe consigamos emplacar um filme de ficção científica de sucesso, de repente podemos até ser indicado ao Oscar. Mas, se nós não formos, quem sabe o filme do Lula o seja; aliás, só faltaria isso para glorificar nosso presidente: uma indicação ao Oscar...não duvidem de nada...
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