quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Por uma noite apenas



De repente você vê seus momentos passarem por você como o desenrolar de um rolo de filmes que contém as cenas da sua vida. Isto é relembrar. É mais ou menos assim: num instante você acorda no meio da noite, com um milhão de pensamentos, sensações e recordações que te deixam atordoado; sem assimilar tudo ou compreender o que está acontecendo, você só quer respirar um pouco daquilo e torná-lo algo com sentido.

São risos que chegam sorrateiros, lágrimas, vozes, vento, brisa, e um silêncio que vai entrando. Parece que noutro instante o rolo de filmes se transforma num rolo compressor, plainando tudo que está a sua volta, desfazendo as formas, desconstruindo suas edificações mais sólidas.

Isto te faz perceber que a vida não tem um projeto específico para você, ao contrário do que muita gente pensa. Então você vai se dando conta que a vida é formada pelos acontecimentos que vão preenchendo o tempo e o espaço que o cerca, que os fatores vão se construindo segundo a segundo, no desenrolar do dia, no desenrolar da noite.

Na verdade, não temos o controle e o planejamento que imaginamos ter. De repente, no meio da noite quente, num cruzamento de uma avenida muito movimentada, em um outdoor, eu descubro que preciso de uma coisa que até um milésimo de segundo eu nem sabia que existia.

E no segundo seguinte eu recebo uma ligação que desfaz todas as minhas esparsas imaginárias crenças. Você quer voltar pra casa, mas olha milhares de pessoas ao seu redor e não tem a menor idéia do significado de lar. Isto está tão distante e é tão irreal em seu mundo, que não dá pra definir nem a sensação dessa confusão.

Talvez lar seja o lugar onde estão as pessoas que são sua referência, é o lugar que, quando acabar tudo e não tiver mais nada para ver, é para lá que você quer voltar, é com aquelas pessoas que você vai querer estar. Em dois verbos simultâneos, exatamente como foi escrito.

Quando você passa a noite em claro, muitas coisas aparecem em sua mente, muitos projetos são criados, realizados, e desfeitos no minuto seguinte; saudades surgem em seu travesseiro, falta calor humano em sua pele para completar a sua existência, falta voz de criança para lhe dizer coisas sem sentido, mas que são as coisas mais lógicas e inteligentes do mundo, falta o café da manhã em família.

Acredito que você só possa compreender o significado de uma coisa quando está longe dela, e pode reconstruir dentro de você cada sensação, cada momento, cada tijolo, cada móvel, cada detalhe, e, porque não, cada partícula do que é importante em sua vida.

Olhar pela distância infinita te dá uma perspectiva diferente de como podem ser as coisas, ou de como as coisas podem ser. Depende de como você se prepara para voltar, depende de como está sua saudade e suas necessidades, depende de como você irá se entregar.

Talvez por isso, o sonho do sucesso seja uma prisão que te mantém em cárcere privado de tudo aquilo que realmente importa para viver. Algumas coisas estão começando a fazer sentido. Se eu não pensar muito sobre isso, mas sentir isso, talvez encontre o caminho de casa, e descubra de vez o que significa um lar.

domingo, 15 de novembro de 2009

Intolerância: guerra e paz entre o vestido e a escada.



Ultraje, segundo nossa lexicologia, é definido como "ofensa grave". Quando ultrajamos o outro, com nossas aspirações, com nosso jeito de ser, com nossos anseios?

Recentemente, foi estampado em todos os meios de comunicação o caso da garota que vestiu um micro-vestido para ir a uma aula, em uma universidade no estado de São Paulo, despertando a libido exagerada dos alunos, e que na seqüência passou a ser alvo de exagerada euforia ofensiva por parte de um grupo de pessoas.

Após a confusão e os excessos, a jovem precisou ser escoltada pela polícia para sair do prédio, e ainda assim um coro uníssono continuava a ofensiva verbal.

Logo, começaram os debates nacionais televisionados sobre limites, adequações ao meio, intolerância, preconceito, racismo, violência contra a mulher, e por aí afora. Claro que todo debate é positivo, quando podemos despertar o respeito ao próximo, aos limites, ao respeito da individualidade.

Se a moça do micro-vestido queria se promover, é uma questão somente dela, e de mais ninguém. Criou-se essa delimitação social do adequado ao meio. Quem determina essa baboseira?

Agora, essa moralidade abstrata e virtual de roupa adequada ao local e situação adequada, isso é uma ignorância em extrato virgem. Como pode alguém querer determinar o que eu devo vestir e o significado de cada situação para mim? E mais, como pode alguém querer definir quem eu sou, minha identidade?

Parece-me que alguns iluminados sabem diferenciar o que é ou não é adequado, o que é moral ou imoral? Parece que quando avançamos, estamos na verdade regredindo, como se o relógio girasse ao contrário.

Se eu quero ser provocador, dissimulado, ou discreto, isso eu decido. E em qual momento eu achar conveniente; mesmo sendo inconveniente.

Agora (ou desde sempre) sou obrigado a imaginar que se alguém achar que estou fora do perfil social posso ser linchado, massacrado, extinto?

Então cada um deve se limitar a viver de acordo com as pretensões e opiniões dos outros, e não de seus próprios anseios e convicções?

São perguntas demais para respostas que nem sempre gostamos de ouvir, ou dar. Infelizmente sabemos cobrar o nosso limite, o nosso espaço, o respeito aos nossos pensamentos e crenças; porém, somos mestres em esquecer do que nos cerca e não é nosso, do que está fora de nosso umbigo. Aquilo que é meu é o correto. Aquilo que é do outro, é o fora do padrão.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Só o Simon viu!!!

Jogador Obina, do Palmeiras - foto retirada da internet.

Como são engraçadas as coisas. Acabo de ler uma entrevista do Simon, árbitro polêmico, que anulou o gol legítimo do Obina, domingo, no jogo entre Palmeiras e Fluminense, no estádio do Maracanã.
.
É notável como as pessoas são incapazes de admitir seus erros. Mais ainda, dizem terem visto coisas que ninguém mais viu. Nem mesmo os adversários.
.
E isto não é só no futebol, estou pensando num contexto amplo. Tudo bem que o ser humano é moldado pelo que o cerca, tem suas falhas, suas imperfeições. Todos, sem exceção são assim.
.
Carlos Eugênio Simon, gaúcho, é um árbitro de futebol polêmico. Como todos na vida, acerta e erra. E como muitos, quando erra, não tem a capacidade, a humildade de admitir seu erro. Mais ainda. Disparou: "se a televisão não viu a falta do Obina, eu vi". Já justificando, "se ninguém viu, é porque não deu tempo da câmera filmar, mas que aconteceu, aconteceu!"
.
A CBF o afastou até o fim do Campeonato Brasileiro, por considerar haver excessos de erros conseqüentes ao longo dos últimos meses. Contudo, não acredito que seu ato tenha sido motivado por corrupção. Não pela corrupção financeira. Acredito que tenha sido uma falha, um equívoco, talvez pelo excesso, talvez pela pressão, muitos fatores podem ter influenciado. Talvez falta de aprimoramento profissional, reciclagem, estratégia e treinamento que o fizessem estar concentrado, melhor preparado.
.
Só que, infelizmente, arbitragem de futebol é algo que muitas vezes prejudica o jogo. E por se tratar o futebol profissional de um negócio financeiro, seus profissionais deveriam ter mais responsabilidade, mais preparação.
.
Claro que uma partida de futebol sem arbitragem não teria a menor condição de acontecer, quanto mais de terminar. Só que, acredito eu, um árbitro tem poder demais dentro do campo, o que lhe permite facilmente errar, e prejudicar.
.
Esse tipo de erro, que influencia um resultado, não é tolerado nem perdoado na economia global. E sendo o futebol o que é, não sei se podemos considerá-lo profissional. Não é tolerável, rentável, atrativo, um fator externo interferir de forma tão direta.
.
Se um time tem a capacidade de marcar um gol e sair vitorioso, em uma partida muito disputada, até mesmo épica, isto é sinal que o espetáculo atinge seus objetivos, e todos ganham com isso, até os perdedores.
.
Porém, da forma como as coisas têm acontecido, para todos em geral, sem distinção de time ou agremiação, não podemos chamar isso de profissionalismo. É lamentável.
.
Gasta-se tanto com tanta besteira, na área esportiva, por que não criar um sistema inteligente, capaz de permitir que um resultado seja influenciado somente pelas falhas ou brilhantismo dos jogadores? Não acho que esse tipo de falha, a da arbitragem, seja para dar emoção ao jogo, ou mesmo fomentar as conversas de botequim espalhadas por todos os canais de televisão com aquela balela cansativa.
.
Pra mim, é lamentável. Não que o Palmeiras não seja campeão por isso, afinal o time não vem jogando nada faz pelo menos um mês. Os jogadores, de repente, perderam a inspiração, o apetite pela vitória, e isso talvez somente eles saibam os motivos. Por outro lado, os adversários estão jogando, alguns muito, como é o caso do Flamengo, talvez hoje o time mais agradável de se assistir.
.
Mas penso no campeonato como um todo, como algo maior que as pessoas que o fabricam, e suas falhas grotescas. E são tantas que a questão da arbitragem talvez nem seja parte do conjunto de maiores problemas.
.
Mas acredito que deveria haver bom senso. Algo que anda distante de muita gente, e que está fazendo falta nos dias de hoje, nos dias de ontem, nos dias de amanhã. Por fim, quem ganhará o campeonato? Bom, acredito que isto será um mero detalhe para a maioria.