domingo, 19 de julho de 2009

A minha madrugada - do harrison ford a internet


Cresci ouvindo e lendo que as madrugadas são um momento de criação único. E que tão bem rimam com solidão, destruição e escuridão. Por mim, não vejo nada de criativo nisso, e vez ou outra fico me perguntando: mas será assim mesmo? Estou pensando agora se sou um companheiro da madrugada, ou se a madrugada é minha companheira. Enquanto vou ouvindo música e lendo algumas coisas (algumas até interessantes, mas como tem porcaria por aqui pra ler), vou aproveitando pra me atualizar sobre coisas diversas (que piada!!), tentando fazer das minhas horas insones algo produtivo.
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Não me perguntem o que é algo criativo. Descobrir uma música nova, uma reportagem interessante, um vídeo instrutivo, ou nada disso. A televisão é bossal na madrugada, não consigo imaginar que alguém possa ligá-la. A não ser notívagos ou madrugadores masoquistas, como eu. Entre uma reportagem de coleção de bonecas, na TV, e um conjunto de música gótica fazendo lançamento na internet, prefiro escrever.
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Harrison Ford fazendo propaganda sobre preservação de animais, aí já é demais pra mim. Vou desligar a tv e ficar só com o computador. Ainda bem que existe a internet. Pra ocupar a vida dos desalmados insones. Ouvindo It´s not my time, do 3 doors down, resolvi prestar atenção no que a música está dizendo: o cara vai se afogar, ele quer que ela a salve, porque ainda não é a hora dele ir. No clipe, começa com o cara se jogando do topo de um prédio, e depois praticando base jump ao longo de todo vídeo pra evitar que uma mulher e uma criança, dentro de um carro, colidam com um caminhão, o cara é uma espécie de um anjo protetor.
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O mais engraçado é que hoje as coisas são assim mesmo. Sem o menor nível, sem o menor sentido, e todo mundo se achando gênio, se achando demais, ou se achando de menos. Pra ambos os casos temos solução. Para os insuperáveis gênios, os prazeres solitários e as legiões de bajuladores, seguidores. Para os depressivos inferiorizados, os estimulantes, os benzodiazepínicos, os grupos anônimos e as igrejas evangélicas.
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Mas, voltando a mediocridade em que as coisas se encontram, vejo um grande exemplo nas propagandas televisas exibidas hoje em dia. Tratam o telespectador como débil. Tudo bem que todo mundo já está sabendo que ninguém mais presta atenção nas propagandas, mas como o nível pode cair tanto? Diferente dessa pobreza criativa, as propagandas pela internet estão, aos poucos, tomando um lugar interessante.
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Capazes de criar uma imagem real e permitir que cada um se aproxime dos detalhes que mais achar interessante, os vídeos em 3D e animações estão começando a interagir com o público. E você tem a possibilidade de ver, rever, mudar o ângulo, a cor, etc. Aqui no Brasil já tem algumas coisas interessantes, muita gente criativa, também alguns sites dos Estados Unidos e da Europa, e até do Japão.
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Ao contrário, não vejo mais como a televisão pode inovar, nem nos rostos, nas vozes e nas bundas. Está sendo a mesma desde os anos 1980, e, como saí da infância para a adolescência no final desta década, estou enjoado desse formato repetitivo, sem interação, congelado. E agora com o excesso de cirurgias plásticas e recursos tecnológicos, se a tv mostrar um close em uma bunda, pode ser a de qualquer uma, ou a de todas, ou a de um robô-andróide, pois está tudo igual, siliconadas e bronzeadas artificialmente, e re-desenhadas pelo computador.
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Ou seja, continuamos com a banalização do corpo, pra aumentar o ibope, só que vendendo corpos hi-tech de andróides. E nos apaixonamos por eles, o que é pior. Buscamos de forma tão exagerada a perfeição e a satisfação pessoal, que já não importa mais se a pessoa ao lado, ou do outro lado da tela (seja do computador ou da tv) seja real, ou um sistema programado para se comunicar comigo de forma inteligente artificialmente.
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A solução ideal seria a de que se ao invés das empresas de cosméticos nos vendessem produtos para nos deixar jovens pelo resto da vida, elas nos entregassem um software no qual pudésemos instalar em nosso corpo e ir nos retocando pelo computador, fazendo downloads e atualizações, seria muito melhor. Descobriram um novo formato para seu nariz, para implantá-lo clique em "fazer atualizações", e pronto. Com um clique e estamos maravilhosos, em forma, jovens, modificando a cor dos olhos como que troca de descanso de tela e papel de parede, e com tudo que há de mais moderno e atual no momento, versão 5.1.
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Quando escrevo, quero deixar bem claro aqui que não estou me referindo a ninguém em específico, nem mesmo a um ou outro grupo, muito menos criticando, etc. Só estou tentando dizer pra mim mesmo o que estou vendo ao meu redor. E talvez minha vista, na madrugada, esteja um pouco embaçada. E entre os vídeos Fly, da Vanessa Camargo com o Ja Rule, Mr Carter III, do Lil Wayne com o Jay Z, Broken Hearted Girl, da Beyonce, e Rehab com a Amy Winehouse e o Jay Z, vejo um faixo de luz vazar pelo vidro da cozinha. Hora de tomar um café, pra esquentar, porque está um pouco frio por aqui e ainda não sei que horas tudo começa e por qual caminho devo ir.


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